Bogotá ou “não to conseguindo respirar” (um relato sobre o mal de altitude e como evitar)

Assim que saí do aeroporto, entrei no táxi e ouvi rumba e reggaeton tocando sem parar, senti “cheguei na Colômbia“.

E tive certeza de onde estava quando fiz um mínimo de esforço físico (só subi uma rampinha), e o coração começou a pular assustadoramente e o fôlego a faltar.

Essa falta de fôlego é aquele raio do “soroche” (que já reclamei muito aqui, aliás), o “mal da montanha” que te ataca sem dó em Bogotá. A cidade fica a mais de 2.600 metros de altitude. Isso é mais do que Arequipa (meu amorzinho no Peru – que por sua vez é meu amorzão), e menos do que Cusco, Quito ou La Paz (graças a Deus, senão eu provavelmente desmaiaria).

Bogotá é a terceira capital mais alta no continente, e a quarta mais alta do mundo.

ruas no centro histórico de Bogotá

Como a comida na Colômbia é farta e muito pesada (e eu não resisti e acabei comendo bastante assim que cheguei), o soroche me pegou de jeito.

Não sei se alguém lembra daquele conselho que repeti cerca de 780 vezes sobre não comer demais na altitude. Então: basicamente não segui meu próprio conselho (é que eu tava com fome…) e me lasquei. Consequentemente minha primeira impressão de Bogotá foi: “que maneiríssimo essa rumba tocando em todo lug… IIIRCK, OXIGÊNIO, CADÊ MEU OXIGÊNIO?!”

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o centro histórico da cidade é um lugar que vale a pena conhecer, bonitaço e cheio de memória

Mas tem gente que não sente absolutamente nada em Bogotá, você pode ser um desses sortudos (se for me conta o segredo, por favor), então não se assuste com esse relato aqui não.

em outras cidades da Colômbia o ar volta, e tudo melhora. O problema é Bogotá mesmo (que nos vôos é a porta de entrada no país, em regra, então você muito provavelmente vai ter que passar por lá em algum momento).

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pra piorar lá ainda tem rampa pra caramba (foto tirada em La Candelaria)

Minha impressão geral da capital não foi muito otimista. Preferi demais outras cidades na Colômbia. Obviamente isso é uma opinião totalmente pessoal e tem gente que ama Bogotá. Vide o tanto de declarações de amor espalhadas nos muros de lá.

Te amo Bogota nas ruas.gif

O problema é que, além do mal de altitude não ter me ajudado, também não achei o clima muito agradável.

Bogotá é uma cidade fria e nublada quase todo o ano. Eu já não sou muito chegada em frio. Era verão, e ainda assim fazia frio e chovia todos os dias, em algum momento do dia (e um dos moradores de lá confirmou que é assim o ano todo mesmo). Podia até fazer um calorzinho no começo do dia e no horário de pico do sol, mas lá pra tardinha lá vinha o frio de nooovo. Se você for fã de usar um monte de agasalho e cachecol, vai gostar bastante de lá.

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dá pra sentir o frio pela foto?

As fotos que você vê por aqui com um pedacinho de céu azul eram de raros momentos de céu aberto em Bogotá,  geralmente durante a manhã. Depois o céu ia fechando, fechando…

“Pelamor, Bogotá tem alguma coisa legal pra fazer ou só tem falta de ar, tédio e frio?”

Tem coisa bacana lá sim, eu que tô sendo pessimista aqui.

Tem lugares fotogênicos? Tem, muitos. Fotogênicos até demais (e todas as fotos na viagem foram tiradas de celular, aliás – por falar nisso, minha câmera oficialmente quebrou mesmo, com a “tempestade” de areia do deserto de Huacachina e do deserto de Paracas).

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Vista do Centro Cultural Gabriel García Márquez em Bogotá

E Bogotá tem bons restaurantes, cafés, parques, livrarias, e uma rumba deliciosa e reggaeton tocando em todo canto.

Lá também tem muitos museus, e inclusive o hypadíssimo Museo Del Oro, que tá na lista dos 25 melhores museus do mundo.

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Esse aí é o Café de La Peña, lugar bem adorável em La Candelaria (e essa aí é minha cara de “tô passando mal mas ainda tô fazendo pose”)

Bogotá é uma cidade enorme, não deixa absolutamente nada a dever pra São Paulo. Inclusive lembra São Paulo em diversos aspectos. Principalmente o trânsito. Ah, o trânsito… Meu Deus, aquele trânsito. Não subestime os comentários dizendo que o trânsito de Bogotá é ruim: é mesmo.

(Falando em São Paulo, leia também: Os melhores passeios nerds em São Paulo – lugares geeks embasbacantes que nem Sheldon botaria defeito)

La Candelaria em Bogotá
maaais rampa em La Candelaria

Se você tiver hora pra chegar em algum lugar, é bom sair com antecedência. E ser bem paciente, porque é provável que você (inevitavelmente) passe bastante tempo no carro/uber/táxi/ônibus.

E por falar nisso: Uber funciona bem em Bogotá?

Tem um lado muito bom que merece ser ressaltado: Uber funciona muito bem em Bogotá, e tanto uber quanto táxi são incrivelmente baratos na cidade, pode pegar sem medo (é melhor pegar uber, é bem mais seguro, de acordo com a recomendação de um pessoal de Medellín e Bogotá mesmo, e o serviço é bom).

Uma corrida enorme e demorenta (1 hora ou mais dentro do carro) que daria facilmente 100 reais no Rio de Janeiro, deu menos da metade lá.

E ainda falando de trânsito e “chegar com muita antecedência”, esse conselho definitivamente vale na hora de ir pro aeroporto. A fila da imigração é sempre grande pra caramba e demorada. E tem fila grande e demorenta tanto pra sair, quanto pra entrar no país.

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Outra coisa que ofuscou Bogotá pra mim é que conheci outras cidades que me encantaram totalmente na Colômbia, e quando tive que sair delas e voltar pra Bogotá pensei “aaah não ´._.`”. 

Mas ainda devo escrever uma visão mais otimista e com os cantos bacanas de visitar e se hospedar na capital. Por agora resumo com: Achei Usaquen um lugar bem mais gostosinho, tranquilo e cômodo pra se ficar, do que a Zona T ou as proximidades do Parque de la 93 (que são os lugares “hypados” de lá) – você pode ver opções de hotéis fenomenais em Usaquen aqui.

A Zona T é um lugar muito “turístico”, “hypadão” e batido. É onde fica o “agito” da cidade mesmo, mas a meu ver meio impessoal e sem nada demais (lembrando que essa é minha opinião, um monte de gente ama, e você pode ser uma dessas pessoas e se apaixonar por esse canto da cidade).

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Essa aí é a “Zona T”. É um pedaço bonito da cidade, agitado em todas as horas, cheio de restaurante e loja de grife, mas não conquistou meu coração não (acho que dá pra ver pela minha cara)

Em Usaquen você se sente mais como um “local”, e menos turista. Lá tem uma mistura de casinhas, prédios baixos, prédios altos, pracinhas e avenidonas com muitos restaurantes – e vida noturna também, não deixando nada a dever pras proximidades da Zona T e Parque de La 93. Além de ter um “mercado de pulgas” tradicionalzaço aos domingos.

(Leia também: Os melhores (e piores) lugares pra se hospedar em Bogotá)

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isso é um pedaço de Usaquen!

Já “La Candelaria” é realmente um lugar que vale a visita em Bogotá (possivelmente suas melhores fotos da cidade vão sair de lá).

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mais uma das ruazinhas bonitas de La Candelaria

Mas não acho, nem ferrando, que vale a pena se hospedar por lá (nem no Centro de quase qualquer cidade grande), a menos que você ache razoável ter a preocupação de não poder andar nas proximidades de onde mora depois das 18h.

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No próximo texto sobre a Colômbia dei mais dicas úteis de Bogotá, que vale a pena conferir, aqui. Finalizo o pessimismo por aqui, e até o próximo post!

Leia também:

  1. Os melhores (e piores) lugares para se hospedar em Bogotá 
  2. 20 dicas da Colômbia que eu gostaria que tivessem me dado antes de ir
  3. 10 detalhes adoráveis de Guatapé, a cidade mais colorida da Colômbia
  4. Como é subir La Piedra Del Peñol (de acordo com os colombianos, o “mirador mais lindo do mundo”)
  5. Os motivos pra conhecer Medellín, a deliciosinha – eu me apaixonei, e você provavelmente também vai

9 comentários sobre “Bogotá ou “não to conseguindo respirar” (um relato sobre o mal de altitude e como evitar)

  1. Acabei indo a Bogotá quase que por acaso quatro anos atrás. Fiquei uns dias e a área da Candelaria me agradou – não andei muito mais pela cidade.
    Lembro que senti a altitude não de cara, mas após algumas caminhadas. Dias antes meu pai havia me dito que caminhava rápido. Pois. Não consegui manter o ritmo lá. E a coisa piorou quando subi o cerro de Monserrate, o passeio que achei mais legal em Bogotá. Lá são 3200m de altitude. Aí sim, tive que parar um pouco pra descansar em alguns momentos.
    Mais a mais, simpatizei até com Bogotá. 🙂

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    1. Seu pai é muito guerreiro, depois pede o segredo pra ele!
      Depois de um tempo eu fiquei andando em câmera lenta lá também, e passando mal mesmo assim… (mas aprontei também, definitivamente não era pra ter comido feito doida 😦 ). A área da Candelaria é muito charmosa mesmo, acho que é o grande tchuns de Bogotá, e subir/passear no cerro (parando pra descansar ou não) é só pros fortes, parabéns! Brigada por compartilhar sua experiência!

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  2. O soroche me pegou em La Paz, simplesmente caminhava em “câmera lenta”. No entanto, em Chacaltaya, estação de esqui perto de La Paz, mais de 5,4 mil metros de altitude nada senti, inclusive com temperatura de -15*. Lá, pude olhar o encontro do finito com o infinito. Não sei se existe algum segredo para enfrentar a altitude, mas passar por ela é uma experiência que nos torna mais maduros em uma viagem. Meu abraço.

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    1. Não ficar mal a mais de 5,4 mil de altitude e -15 é uma das minhas metas de vida, deve ser sensacional!
      E você tá certo, acho que depois de encarar falta de oxigênio, centenas de restrições na alimentação e uns 70 efeitos desagradáveis a gente meio que fica pronto pra encarar quase qualquer perrengue em viagem.
      Abraço! :))

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  3. Olá, adorei seu blog, super informativo e numa linguagem divertida! Sobre o soroche, queria saber se você sabe responder uma coisa que não encontrei em lugar nenhum. Por sua própria experiência ou pela de outros: quem tem soroche na primeira vez, tem também nas demais na mesma cidade? Pergunto porque passarei dois meses em Bogotá e irei a Medellín, Cartagena, México, acho que Cali também e sempre voltando para Bogotá, onde alugarei apartamento. E só mais uma outra questão. Em outro tópico aqui do blog você disse para não tomar remédios, tipo Dramin, antes de subir a Piedra del Peñol: antes de saber que pode sofrer com o Soroche é melhor não tomar nada? Por quê? Abraços e ótimo blog!

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    1. Oi, Diego! Muito obrigada! Sobre os remédios, a questão do dramin é porque o remédio faz a pressão baixar (em regra), e ficar com pressão baixa na altitude pode ser pior! Expliquei melhor isso aqui, onde conto que passei muito mal no Chile depois de tomar Dramin subindo os Andes: https://1viagem2visoes.com/2016/08/23/dicas-do-que-nao-fazer-chile/
      Ou seja, no meu caso, não tomei um remédio específico pro soroche/mal de altitude, eu tomei um remédio pra enjôo, e esse remédio + altitude acabou me fazendo mais mal ainda! hahahaha maaas existem remédios específicos pro soroche que ajudam bastante. Geralmente tem cafeína na fórmula, se não me engano. Você encontra facilmente na farmácia em cidades altas assim! Medellín a altitude é relativamente tranquila e o clima muito gostoso (babei bastante na cidade aqui e dei umas dicas que podem ser úteis: https://1viagem2visoes.com/2017/07/27/guia-breve-de-medellin-onde-se-hospedar-e-de-quais-bairros-fugir-onde-comer/), você não deve ter nenhum problema por lá. Cartagena não tem altitude, então pode ir tranquilo, e Cali é menos alta que Bogotá. Pra te tranquilizar: a maioria das pessoas não passam tão mal quanto eu passei em Bogotá! Essa coisa de soroche é meio “loteria”. Eu infelizmente passei mal em todas as vezes que passei por Bogotá, mas acredito que eu tenha tendência a passar mal na altitude mesmo. Teve um leitor que comentou aqui acima que foi bem tranquilo, então isso varia bastante e você pode ter uma experiência ótima! É só evitar esforços nos primeiros dias (e evita comer muuuito), enquanto se habitua, e tudo vai correr bem, fica tranquilo! Boa viagem e volte sempre por aqui! Depois me conta como foi! (e tem mais dicas de Bogotá aqui: https://1viagem2visoes.com/2017/01/19/os-melhores-e-piores-lugares-pra-se-hospedar-em-bogota/)

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  4. Olá bom sou Português já viajei por Colômbia várias vezes estive em Bogotá cali santa Marta
    SAN Andres e departamento de Huila garçom
    E não senti nada de anormal nem na respiração nem no frio pois frio não sinto porque vivo numa cidade de baixas temperaturas Zurique
    Mas para mim o melhor clima e o de huila
    Não muito quente nem frio e muito agradável
    Mas gostei de toda a Colômbia e muito parrandeira as cidades são alegres só deixa a desejar a segurança mas de resto tudo e optimo
    Alegre e a comida e muito agradável
    E tudo que tenho a dizer de Colômbia
    Um abraço a todo mundo

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