Guia de sobrevivência do Rio de Janeiro

Dia desses tive uma epifania: entendi por que 90% dos cariocas andam de bermuda e chinelo até em dia chuvoso.

Concluí que não é pela praticidade, menos ainda pelo conforto. Aquelas tiras de havaianas machucam o pé, na chuva você vai ter que fazer acrobacia pra não pisar em poça (e ainda que seja mais acrobata que o Demolidor, vai voltar com o pé preto de toda forma) e além disso é difícil andar de chinelo… ele solta do pé, não protege de eventuais pisões e a gente fica segurando a tira involuntariamente com os dedos, diz se não.

Também não é porque “tá calor”, porque outro dia tava um frio danado (parece que contei piada, mas aqui realmente faz frio às vezes), e muita gente continuava ostentando esse que é provavelmente o traje oficial do Rio de Janeiro.

Mas a razão, então, pra 13 em cada 10 pessoas no Rio usarem havaianas e bermuda até em Bodas de Diamante no PortoBay Internacional, qual é?

O Manual de Sobrevivência do Rio de Janeiro

Carioca sabe que, a depender da região em que estiver, pra andar na rua depois de certo horário, tem que passar 2 coisas: ou passa despercebido, ou passa a impressão de estar na pindaíba.

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Centro da cidade

Pra atingir esse objetivo, o ideal é escolher uma camiseta surrada, daquelas que eram laranja neon mas tão ficando amarelo ovo, uma bermuda de 2007, e as havaianas arrastando no chão.

Geralmente essas havaianas também vão ter uma tira que já soltou do pé mais do que roda de bicicleta do Itaú, e é possível que ele inclusive ande de bicicleta do Itaú com os chinelos.

Os acessórios

Algumas mulheres às vezes acordam tomadas por uma ousadia e intrepidez descomunal: colocam brinco, colar, pulseira e anel ao mesmo tempo. Daí imediatamente ouvem a mãe falando “Pelo amor de Deus, tira isso”.

Então, na maioria das vezes, elas levam na bolsa pra colocar chegando no lugar.

Ou simplesmente desistem.

Isso me fez descobrir, outro dia, que um bolso da minha bolsa (ficou confuso isso) tinha 3 brincos, 1 pulseira e 1 colar que eu não lembrava onde tavam. Em síntese: minha bolsa usa mais acessório durante a semana que eu.

Os celulares

Da última vez que chequei, cariocas ainda se permitiam comprar celulares caros. Geralmente a escolha pelos caros é motivada por terem uma câmera excepcional.

Daí eles não tiram quase foto nenhuma no Rio de Janeiro (porque é perigoso sacar celular tão caro em determinados lugares).

[Aproveita e assiste o “Guia Musical de como proceder em assaltos no Rio de Janeiro”)

Os táxis

Carioca não estica o braço nem pra ajeitar a manga da camisa. Ele sabe que se fizer isso, 15 táxis vão achar que fez sinal, e parar se oferecendo.

A quantidade de táxis nas ruas do Rio, especialmente na Zona Sul, é realmente impressionante.

O visual praiano

Carioca não vive na praia, ao contrário do que pensam. Nem poderíamos: em algum momento começa um arrastão e a gente precisa sair de lá.

Ainda assim, a maioria parece que acabou de sair da praia, mesmo quando passou o dia numa audiência trabalhista em Realengo.

Esse fenômeno é fácil de entender: aqui é possível “pegar um bronze” (ou se queimar e ficar com a bochecha tão rosa quanto um Jigglypuff, como me acontece) só de caminhar 5 minutos até o metrô, ou esperar um 434 no ponto de ônibus.

A gente também fica com aquele “cabelo de praia”, que tantos acham que é despojado, mas é só descabelamento por sentar na janela do 457 ou por ter que correr quando ouve que começou um arrastão a 3 quadras de distância.

rio de janeiro sendo lindo
(no meu caso tô sempre meio descabelada até parada mesmo, bate um vento e já arranjo 37 nós)

O biscoito

Se você pedir uma bolacha aqui, corre o risco de interpretarem que tá pedindo um soco na cara. E convenhamos, seria praticamente um soco merecido: TÁ ESCRITO “BISCOITO”, EM ABSOLUTAMENTE TODAS AS EMBALAGENS, ISSO NÃO TÁ NEM ABERTO PRA DISCUSSÃO.

[Aproveita e lê “A triste história da carioca que amava São Paulo mas não era recíproco“]

Conclusão

A verdade é que o Rio é impressionante: mesmo com regras de sobrevivência, ainda consegue ser uma cidade que encanta a maioria absoluta das pessoas que vem pra cá. Então pode ignorar tudo que escrevi e vir.

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(Mas vem sem usar joia, e evita pegar muito o celular na rua)

Quer dar mais alguma dica de sobrevivência ou contar como foi sua experiência aqui? Manda nos comentários!

E leia também sobre os 10 passeios muito gostosos e tranquilinhos (sério, são passeios TRANQUILOS!) no Rio de Janeiro.

E aqui tem o “Guia Musical de como proceder em assaltos no Rio de Janeiro” (uma paródia com a música Din Din Din da Ludmilla).

 

PS: Só pra constar que 87% desse post foi ironia.


Pra reservar hotel ou hostel aqui no Rio, chega aqui.

E segue o 1 viagem, 2 visões no facebook  e instagram pra pegar mais umas dicas também!

32 comentários sobre “Guia de sobrevivência do Rio de Janeiro

  1. ahahahahah adorei! Agora entendi por que sempre que ia pro Rio o povo estava de havaianas e bermuda 2007!!! Eu mesma, quando morava em Teresópolis e descia para o Rio, ia meio que assim nessa vibe para a cidade. Tipo, se vai pro Rio, vista-se como os locais que fica tudo bem!!! Beijos

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    1. Que leitura gostosa! Me rendeu altas risadas e a parte ruim foi que acabou, ficaria horas lendo enquanto o flashbk dos meus 25 anos de vida iam confirmando tudinho escrito aqui, isso que me fez rir ainda mais…ainda mais por saber que não é coincidência, é só o cotidiano de todos os cariocas kkkkk…AMEI!

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  2. Estou morando em lugar aqui no Paraná que chama Ilha do Mel. Como o nome já diz, é uma ilha. Todo mundo anda de chinelo e bermuda. Menos eu! Como não tem calçamento por aqui, daí você fica com o pé sujo de areia o dia inteiro. E essa não é uma sensação que eu gosto muito. kkkkkk Mas o Rio, pelo menos, continua lindo, não?

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      1. Tenho uma tia que mora no Rio, a última vez que fui foi em 2010. Talvez seja hora de voltar. Quanto a Ilha, é lindo pra “turistar”. Pra morar, é lindo e complicado. No meu caso, tem sido bom pra colocar a leitura em dia, escrever e pescar.

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    1. HAHAHAHAH não precisa pedir desculpa, Ricardo!!! Essa é realmente a impressão que as notícias passam!
      Se você ficar pelos bairros mais seguros, geralmente na zona sul (e que também são próximos dos pontos turísticos – ou são os próprios pontos turísticos em si, como Copacabana e Ipanema, o que já é uma baita mão na roda), já ajuda bastante a tornar a viagem mais tranquila! No mais, o Rio é uma cidade linda mesmo, pode vir sem medo que você vai se apaixonar! Obrigada pelo comentário!

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  3. Adorei o texto!!! Tô super preocupada pq vou a trabalho pra Petrópolis e comprei a passagem de volta pra 3 dias depois pra poder passear no Rio. Faz tempo já e dps q piorou o rolo todo por aí… Socorro!!! rs

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    1. Nãão, não fica preocupada não! Aposto que você vai aproveitar muito o Rio, sem medo (aqui só anda meio frio e nublado nos últimos tempos)! Se possível fica pela zona sul, que tem os bairros que além de mais seguros também tem a maior concentração de pontos turísticos (ou são os próprios pontos turísticos em si hahaha), e aí o nível de preocupação reduz bastante! Muito obrigada pela visita e comentário! 😊🙏

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  4. Eu sou carioca e o Rio foi a cidade em que vivi (e ainda vivo) na maior parte da minha vida. Não concordei com este texto em quase coisa alguma, apenas quando diz que cariocas não vivem na praia, porém, dizer que isso é por causa de arrastão é um reducionismo incrível. Isso porque a gente trabalha e, infelizmente, não dispõe de tempo ilimitado para o lazer, como é o caso da imensa maioria da população brasileira.
    Discordo completamente em dizer que a maioria anda de bermudão e havaianas. No Rio se vê de tudo em termos de moda, inclusive muita gente bem arrumada, até porque não se pode trabalhar ou frequentar determinados ambientes com qualquer roupa.
    Eu vejo as pessoas usando seus celulares dentro dos ônibus, no trem, nas ruas, na praia e em todo lugar. Claro que existe roubo ou furto destes aparelhos, mas isso não impede que as pessoas usem mesmo assim. Também fiquei pasma com a afirmação contrária. Não é isso que eu vejo no meu cotidiano.
    Li este texto aqui para alguns amigos e todos concordam com o que estou dizendo. Achamos que há um reducionismo imenso neste texto e uma sensação de desconhecimento da cidade, com reprodução de muitos estereótipos. Como o Rio é uma cidade imensa, talvez este seja o Rio com o qual alguns se identifiquem, como é o caso da autora, mas sem dúvida a observação cotidiana e atenta esclarece uma série de coisas.

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    1. Oi, Carla! O texto é de humor, usa ironia, não se preocupa! Avisei no final do texto isso. Ele brinca justamente com os estigmas e os exageros! Também sou carioca e amo o Rio. Aqui no blog tem vários posts incentivando a conhecer a minha cidade que sou apaixonada: https://1viagem2visoes.com/category/brasil/rio-de-janeiro/ concordo contigo que nossa cidade merece muito ser conhecida e defendida. Obrigada pela leitura e volte sempre por aqui!

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  5. Oiii… gostei muito do seu texto, achei bem interessante as dicas que você deu, então, sou do Rio, mas moro em Natal RN há 24 anos e também é uma cidade belíssima, mas amo o meu Rio de Janeiro de montão. Estou indo agora com a minha filha que é potiguar, nasceu aqui e a mesma está super ansiosa para conhecer alguns pontos turísticos e em especial o Parque Lage, e com as dicas do seu blog ficou tudo mais fácil, gostei muito… obrigada!!!

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