O Uruguai merecia um soneto, não um post. Mas eu sou péssima em poesia.
É complicado registrar a experiência lá, porque só de lembrar me dá aperto no peito de tanta saudade. E já tem tanto tempo, que alguns detalhes devem ter se perdido nessa minha memória sem vergonha, o que é um baita pecado.
Coisa curiosa é que absolutamente todas as pessoas que conheço que já visitaram o país, tinham me dado o seguinte veredito: “lá é sem graça/não tem quase ninguém nas ruas/é muito paradão“ (com exceção de Punta Del Este, que lá não deve dar pra chamar de parado mesmo).
Aí a gente vai e *PEIM*, toca a campainha do “PARABÉNS, você ganhou o prêmio de país em que definitivamente gostaríamos de viver”.
Talvez justamente por ser “muito paradão” e “não ter quase ninguém”. Na nossa concepção isso foi sinônimo de uma atmosfera tranquila, gostosa, despretensiosa… Lá você sente que tá vivendo em ritmo de bossa nova.
Era tão bom caminhar sentindo o ventinho suave (às vezes nem tanto) da rambla, ao som mental de “e o barquinho a deslizaaar, no macio azul no mar”. Sendo que o mar de lá na verdade é rio, e consequentemente não muito azul (tá mais pra um marrom dependendo de onde se olhe, mas ainda assim é bonito).
Curtindo aquelas ruas pacatas, que quase sempre desembocavam no “mar”, e até os pontos turísticos sem grande movimentação. Pouquíssimos táxis na rua (isso na verdade não é uma qualidade quando você tá desesperado pra pegar um e não passa), e um pôr do sol fantástico lá pras 8 e bláu da noite na primavera ou no verão (ou seja, não tem pressa nem pra ver o pôr do sol)…


E de bônus pratos deliciosos, tão fartos e que eles juram que é só pra 1 pessoa, mas que alimentariam 4 estivadores famintos com facilidade…

Eu queria muito lembrar o nome de um restaurante gostoso no Porto de Buceo que a gente comeu o Chivito mais marcante (foi o primeiro) das nossas vidas. Não é esse da foto aí em cima não, demos mole e nem tiramos foto dele. É meio que contra nossos princípios ficar tirando foto de comida ao invés de comer, mas todos os Chivitos que a gente se deparava MERECIAM uma foto, viu. MERECIAM UM BOOK INTEIRO, sendo franca.
Lembro que tava um frio de lascar (era de noite, e ali na rambla rola esse ventinho bem brabo quando vai escurecendo)… e encontramos esse restaurante depois de um tempo caminhando e tremendo de frio.
Na área externa do restaurante tinha um cãozinho tão charmoso, que dava vontade de abraçar pra aquecer. Aliás dá vontade de voltar lá, pegar aquele cachorro e trazer pra casa agora que lembro. Se alguém for no restaurante do Porto de Buceo que não lembro o nome, por favor, abrace aquele cãozinho por mim. Podem aproveitar pra comer o Chivito também, mas abracem o cãozinho, principalmente.
Locomoção no Uruguai:
Sobre os táxis mencionados ali em cima, a gente recomendaria que ninguém dependa deles pra nada. O Uruguai é um daqueles lugares que você tem que admitir a necessidade de se alugar um carro. Essa necessidade é obviamente BEM MENOS GRAVE do que em Brasília, por exemplo (mas BEM MENOS GRAVE MESMO!!!), até porque dá sim pra se virar de ônibus e táxi. Vamos substituir a palavra “necessidade” por “seria muitíssimo mais conveniente”.
Com carro você poderia aproveitar pra ir nas mil cidadezinhas lindas e gostosas que tem, tipo Colônia do Sacramento (mais perto de Buenos Aires do que de Montevidéu, na verdade, e dá pra pegar um barquim em Puerto Madero e chegar lá pá pum – o que obrigarei Ricardo a fazer comigo, mas ele ainda não sabe disso), Punta Del Diablo, Cabo Polônio (por favor, Cabo Polônio…) e por aí vai… Ainda temos que realizar o sonho de passar um tempo(asso) em todos esses lugares.
Ocorre que você vai estar num país que tem a população inteira menor do que a de uma cidade no Brasil. Junta todo mundo, de um país inteiro, e dá BEM menos gente do que o Rio de Janeiro, por exemplo (não que isso seja difícil). Acho que isso dá uma noção do quão pacato é. Recentemente o governo lançou até um programa que facilita a residência de brasileiros (e nós comemoramos), porque essa população tão pequena (e consequentemente idosa na sua maioria) tem se tornado um problema.
E se lá tem poucas pessoas, significa que terão poucos taxistas, porque da última vez que chequei taxistas tinham que ser pessoas mesmo. Isso não nos impediu, no entanto, de conhecer o taxista mais legal desse planeta, justamente numa terra de tão poucos deles.
Eu não tô exagerando sobre quão legal esse taxista era. Além de ser possivelmente o senhor mais simpático do país, ele nos contou toda história do chivito com riqueza de detalhes, nos convidou prum churrasco na casa dele, discorreu sobre toda a história de vida dele e dos compositores de bossa nova que moraram em Montevidéu (OLHA AÍ!!! OLHA AÍ!!! De novo a bossa nova!!!), parou pra tirar fotos nossas, e no final nos deu o jornal que ele tava lendo de presente, pra gente levar um jornal do Uruguai pra casa.




A Ciudad Vieja de Montevidéu é um dos centros mais agradáveis desse planeta. Talvez não bata o centro de Arequipa, mas a Plaza de Armas de Arequipa tá mais pra “embasbacantemente linda” do que “agradável e tranquila”, são coisas diferentes.

Comparando com o Rio, é uma coisa surreal aquela sensação de sossego e tranquilidade que você tem bem no centro da cidade. Mas eu disse comparando. Não quer dizer que é perfeitamente tranquilaço a ponto de não ter nenhum caso de assalto e furto na história da humanidade. Porque tem, e inclusive parece que a taxa de violência andou aumentando por lá desde o governo Mujica (admiro ele como pessoa, porque é um dos poucos que tem a vida compatível com o discurso, mas sei lá se admiro as políticas, viu).
Falando nisso, lá na Ciudad Vieja mesmo encontramos por acaso uma loja muy bacaninha (que adivinha só, não lembro o nome) dentro de uma galeria, que tinha um tanto de coisa legal, tipo carteira do Totoro, moletom de unicórnio cósmico, capas de celular maneiríssimas e afins (foi lá, aliás, que encontrei a capa do meu com o Stormtrooper, que durou uns 37 anos) e inclusive tinha almofadinhas do Mujica pra comprar. :V Coisa engraçada, né, se tivesse almofadinha da Dilma por aqui as pessoas só comprariam no máximo pro gato afiar a unha.

É lá na Ciudad Vieja que tá também a fuente de los candados, que rendeu mais um momento marcante gostoso pra memória.


Tem quem vá e diga “é só uma fonte com uns cadeados”. De fato é mesmo, esse pessoal é muito perceptivo. E achamos o momento mágico do mesmo jeito.
O que fazer em Montevidéu:
Perto do Palácio Salvo (aquele prédiozão atrás do Gusmão umas fotos acima) tem o Teatro Solis, que vale uma visita guiada. Tem horários específicos pra isso em cada dia. Custa uns 40 pesos em espanhol, 60 pesos em inglês, francês ou português. Nossa guia era simpática pra caramba, explicava tudo muito direitinho e tinha um sotaque adorável falando português. Era engraçado que ela fazia umas perguntas pro grupo, do tipo “vocês sabem o nome de um ator muito famooso, que fez o filme taal, e que já esteve aqui?” e como eu não gosto dessa dinâmica de professor forçando a gente a responder, fiquei quieta (até porque eu não sabia a resposta pra nada também). Mas Ricardo respondia tudo e interagia bastante, como um aluno exemplar, e depois veio perguntar por que que fiquei quieta, como uma aluna relapsa.

Lá na Ciudad Vieja tem também o Mirador Panoramico de Montevideo, que é bem bacana. Só pelo fato de ser um ponto turístico sem tanta muvuca, já é uma p*rra mágica. A gente teve o lugar praticamente todo só pra gente, pra contemplar as mil vistas possíveis sem nenhuma cabeça na frente.


Pra subir você pega um elevador panorâmico, dentro do prédio da prefeitura. É um local tão nada a ver, que não dá pra adivinhar de jeito nenhum que vai dar em um p*ta mirante de toda a cidade a menos que alguém te avise. Parece até a “sociedade secreta do mirante” (não sei se hoje em dia já colocaram umas placas com “AVISO: PEGANDO UM ELEVADOR POR AQUELA PASSAGEM NADA A VER VOCÊ CHEGA NUM MIRANTE MUITO LEGAL”).
Plot Twist no Uruguai:
Achei os alfajores do Uruguai muito melhores que o da Argentina também. Mas muito mesmo. O doce de leite em geral é mais suave e gostoso. Por que a Argentina que leva a fama do melhor alfajor não sei. Eu já devo estar suspeita pra falar que qualquer coisa lá seja melhor do que qualquer coisa em outro lugar, depois de fazer toda uma declaração de amor nesse post, mas não fui só eu que achei isso.
O aeroporto de Montevidéu:
O aeroporto de Montevidéu é pequeno, mas bonito e charmosinho à beça. Além de muito gentil, olha só:
E não é coisa só da minha cabeça que o Uruguai é uma delícia. Ele já foi considerado o país com a melhor qualidade de vida da América latina, ficando pau a pau com o Chile (a posição dos dois fica alternando a cada pesquisa).
[E o Chile é outro lugar realmente sensacional, como já babei pra caramba aqui]
O saldo geral dessa viagem ao Uruguai foi: quero voltar. Preciso voltar. Quero curtir o sossego de cada uma das trinta e oito mil cidades gostosas e aconchegantes (e principalmente habitadas por lobos marinhos) que o Uruguai tem pra oferecer.
É nessa atmosfera simples, encantadora, de bossa nova e tranquilidade mesmo que eu gostaria de viver, por mais que isso seja só sinônimo de “paradão e sem nada pra fazer” pra imensa maioria.
Cada um tem uma percepção do local, e eu sei que a minha foi a de estar numa parcela do paraíso, abençoada com tanto sossego, uma companhia e um pôr do sol fantástico.
E no fim da viagem descobrimos que Vinícius de Moraes já viveu em Montevideo, pertinho da rambla. Tá explicado de onde vem a inspiração. A dele e a minha.
Pra saber mais de lugares tão gostosos quanto o paisito, segue o 1 viagem, 2 visões aqui, ou no facebook e no instagram! E até o próximo post!
Que lindo! Adorei a leitura, do início ao fim. Estou com o meu namorado aqui em Mvd. Chegamos hoje e estamos curiosos para desbravar todos os cantos da cidade.
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Que coisa boa ler seu comentário, Daniela, obrigada! Aproveitem muito (e com calma) o Uruguai, esse lugar tem uma atmosfera tranquila muito gostosa mesmo! Quando voltar, me conta como foi!!
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